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23 de julho de 2012

Trilhas ecológicas da Rocinha

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Nem tudo na Rocinha já foi descoberto e explorado. Existe um reduto protegido pelo morro e pelas matas que os turistas nem sonham em visitar. São as trilhas ecológicas, um patrimônio exclusivo dos moradores que usufruem de um paraíso ecológico, praticamente no quintal de casa. As trilhas são utilizadas por grupos para caminhadas, acampamentos e até mesmo retiro espiritual.

Para uma galera da Rocinha, as caminhadas já viraram programa obrigatório. Nos finais de semana, várias tribos dividem o percurso, que não requer condicionamento físico de atleta, mas também não serve para quem está com o fôlego prejudicado.

Na trilha da Caixa d' Água, percorre-se quase 30 minutos por uma vegetação cerrada até um descampado de onde se tem uma visão privilegiada da Zona Sul, sobretudo Leblon e Ipanema. Depois de um breve descanso, os trilheiros voltam para a "estrada" e retomam o caminho até atingir o objetivo: uma grande represa de água natural, batizada pelos trilheiros como Caixa d' Água. Quem costuma freqüentar o local, não troca os mergulhos nas águas geladas do lago pela praia, lá embaixo. O banho pode durar várias horas.

- "Pô, a Caixa é muito legal.. Quando eu tô a fim de espairecer, me mando prá lá. Eu já percorro aquela trilha desde os 11 anos. É muito show!", vibra Michael Silva, 21 anos, estudante nascido e criado na comunidade.

Para quem não é atleta, nesse ponto do passeio o melhor é voltar para casa. Mas para os trilheiros profissionais, ainda dá tempo de dar uma esticadinha até a parte mais alta da Rocinha, o Laboriaux, que faz fronteira com a Mata Atlântica. O caminho é difícil mas no final vale a recompensa. De lá, a vista da cidade é ainda mais deslumbrante.

Com um desenho geográfico mais plano, mas menos emocionante, a Trilha dos Padres é ideal para quem não está em busca de adrenalina. O passeio começa na Rua Dionéia e termina na casa do Retiro dos Padres Jesuítas, em São Conrado. No passado, esta era a trilha predileta da garotada entre 11 e 15 anos por causa da grande quantidade de árvores frutíferas.

As mais tradicionais e antigas porém são as trilhas do Manoelito e dos Macacos. Além de saborear frutos de várias qualidades, os trilheiros ainda encontram fauna diversificada, como micos e até alguns pássaros raros. Os trilheiros descansam, fazem piqueniques, luau, e conversam sobre as lendas e mistérios que cercam o lugar. Essa região conhecida como Mata, concentrava há cerca de 30 anos, vários terreiros de umbanda, onde eram realizados despachos e trabalhos de espiritismo. "O mais animado era o do Seu Firme, que sempre fazia as festas de santos com muita comida e bebida", afirma Gilda de Moraes, 58 anos, moradora há mais de 40 na comunidade.

- "Também existia um lugar que a gente chamava de banho dos homens. Tinha uma cachoeira e uma descida que dava num buraco onde os homens tomavam banho pelados", conta ela.

Dos grupos que realizam as caminhadas pelas trilhas, um dos mais entusiasmados é o dos adeptos de Bob Marley e Tribo de Jha. Para eles, o prazer só não é maior, por causa dos sinais de devastação em determinados trechos do percurso, que vão desde a derrubada de algumas árvores até o desvio da água natural das nascentes, através de encanações.

- "O que eu destacaria lá seria o contraste de uma área dentro da favela, tão rica em beleza natural com várias espécies de flora e proximidade com a praia. Também rola um silêncio muito legal. Lá a gente tem até um fogo a lenha para fazer qualquer tipo de comida", conta o auxiliar administrativo Alexandre Miranda, 25 anos.

Alguns frequentadores da região ajudam a preservar a área, porém, nada que possa ser considerado uma ação permanente.

- "Falta manutenção e ajuda para as pessoas que limpam as trilhas e a Caixa d' Água voluntáriamente. Elas poderiam fazer isso de forma remunerada através de uma pequena ajuda de custo. Também falta consciência por parte dos frequentadores, que deixam bolsas, garrafas de plástico e até restos de comida por toda a parte", lamenta Luciano Monteiro Marques. Para o mensageiro de 25 anos, o lugar merece mais cuidado por parte dos visitantes e deveria receber atenção do poder público.

O grupo planeja realizar em breve um grande mutirão por todas as trilhas ecológicas e também uma ação de conscientização a fim de promover a preservação de todo esse paraíso. A campanha só tem um incoveniente: acaba com o segredo. Por Carlos Costa

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